Riscos e Complicações
da
Cirurgia da Obesidade
Fonte: Hospital da Luz
Qualquer procedimento cirúrgico de tratamento da obesidade comporta potenciais riscos e complicações. No entanto, estes devem ser avaliados e ponderados num balanço entre a sua incidência e gravidade e as condições gerais de saúde em que se encontra o candidato a um tratamento cirúrgico da obesidade, sobretudo quando este já apresenta fatores de risco de doenças graves importantes.
Assim, determina-se que um doente tem indicação cirúrgica para o tratamento da obesidade quando os riscos e complicações possíveis associados à operação são mínimos se comparados com o risco de morbilidade e mortalidade inerente à própria circunstância da obesidade e às doenças que lhe estão associadas.
Os riscos e complicações associados ao tratamento cirúrgico da obesidade incluem:
- Riscos e complicações específicos da cirurgia da obesidade, que estão relacionados com o tipo de procedimento adotado e com a experiência da equipa cirúrgica
- Riscos e complicações inerentes a qualquer intervenção cirúrgica em doentes com obesidade mórbida
- Riscos e complicações inerentes a qualquer intervenção cirúrgica ao nível da cavidade abdominal, que diferem conforme a cirurgia se realize por via aberta ou por via minimamente invasiva. Contam-se, entre os mais importantes, a ocorrência de hemorragias e a formação de hematomas ou abcessos intra-peritoneais
- Riscos inerentes à anestesia geral
- Riscos e complicações associados aos procedimentos restritivos:
Banda Gástrica Ajustável:- Deslizamento da banda ou do estômago sob a banda
- Erosão gástrica e perfuração provocada pela banda
- Dilatação da bolsa gástrica superior
- Isquémia e/ou gangrena da bolsa gástrica dilatada
- Torção gástrica
- Obstrução da passagem entre as bolsas gástricas ao nível do anel
- Desconexão do sistema restante da banda com a câmara subcutânea de calibração
- Infeção da câmara subcutânea de calibração
- Inversão de posição da câmara subcutânea de calibração
- Dor no local da câmara subcutânea de calibração
- Erosão da pele pela câmara subcutânea de calibração
- Vómitos persistentes
- Refluxo gastroesofágico
- Dilatação esofágica
- Alterações da motilidade do esófago
Gastrectomia em Sleeve:
- Deiscência (abertura) da sutura do estômago, com o derrame consequente de conteúdo gástrico para a cavidade abdominal
- Estenose da manga gástrica
- Vómitos persistentes
- Refluxo gastroesofágico
A incidência de mortalidade associada aos procedimentos restritivos é inferior a 1%.
- Riscos e complicações associados aos procedimentos de indução de malabsorção:
Os procedimentos de indução da malabsorção, que eliminam do processo de digestão/absorção o duodeno e o jejuno, têm alguns riscos e complicações importantes, entre os quais se incluem:- Ocorrência de fezes moles e frequentes, por vezes com cheiro fétido
- Flatulência e distensão abdominal
- Carência proteica, que poderá exigir hospitalização para reposição por via parentérica
- Carências minerais e vitamínicas
- Insuficiência hepática e cirrose
- Inflamação e/ou ulceração da mucosa gástrica
- Formação de hérnias internas
- Deiscência da anastomose (ligação) entre o estômago e o intestino, ou da anastomose entre dois segmentos de intestino, com um derrame consequente do conteúdo gástrico e/ou intestinal na cavidade abdominal
- Estenose da anastomose entre o estômago e o intestino, ou da anastomose entre dois segmentos de intestino, por formação de tecido cicatricial, com possível obstrução
Riscos e complicações associados aos procedimentos mistos:
Pelas suas características, nos procedimentos mistos existem riscos e complicações inerentes ao componente restritivo e ao componente malabsortivo. Contudo, estes últimos são mínimos e evitam-se ou corrigem-se com facilidade e, regra geral, sem consequências. Os riscos associados a este tipo de procedimentos são os seguintes:
- Deficiências nutricionais devido à interferência com a absorção de vitaminas e minerais, que se evitam ou resolvem com as suplementações necessárias
- Formação de hérnias internas
- Deiscência (abertura) da sutura que encerra a porção do estômago excluído
- Deiscência da anastomose (ligação) entre o estômago e o intestino, ou da anastomose entre dois segmentos de intestino, com um derrame consequente do conteúdo gástrico e/ou intestinal na cavidade abdominal
- Estenose da anastomose entre o estômago e o intestino, ou da anastomose entre dois segmentos de intestino, por formação de tecido cicatricial, com possível obstrução
- Riscos associados a Intervenções Cirúrgicas em Doentes com Obesidade Mórbida
Complicações respiratórias
No doente obeso as intervenções cirúrgicas abdominais, especialmente as realizadas por via aberta, estão associadas a um risco acrescido de complicações respiratórias pós-operatórias. A dor associada à incisão e a pressão sobre o diafragma consequente ao excesso de peso tornam difícil uma respiração profunda. Neste contexto, pode ocorrer o colapso dos espaços aéreos pulmonares, o que aumenta ainda mais a dificuldade respiratória e resulta, por vezes, em pneumonia.
A probabilidade de ocorrência de problemas respiratórios aumenta com o grau de obesidade e é mais elevada nos doentes com uma doença pulmonar preexistente ou com apneia do sono. Assim, na sequência de um tratamento cirúrgico da obesidade, estes doentes são normalmente mantidos durante algumas horas sob monitorização cardiorrespiratória na Unidade de Cuidados Intensivos.
A prevenção das complicações respiratórias pós-operatórias passa pela realização de alguma atividade física antes da operação, de modo a melhorar a capacidade respiratória.
Também é muito importante levantar da cama e caminhar tão precocemente quanto possível após a intervenção. No Centro de Tratamento da Obesidade do Hospital da Luz tenta-se, sempre que possível, que o primeiro levante seja feito no próprio dia da intervenção. Por vezes, recomenda-se a realização de certos exercícios respiratórios, no pré e/ou no pós-operatório, orientada por um fisioterapeuta especializado.
Complicações trombo-embólicas
Pode também ocorrer embolismo pulmonar consequente à formação de coágulos venosos nos membros inferiores, que resultam da estagnação do fluxo sanguíneo durante a operação e no pós-operatório quando os doentes se mantêm deitados por períodos prolongados. Estes coágulos soltam-se e viajam através do coração até aos pulmões, causando problemas respiratórios. No caso de coágulos de grande dimensão pode mesmo ocorrer uma oclusão da circulação pulmonar com consequências fatais.
A probabilidade destas complicações aumenta com o grau de obesidade e com a idade, sendo também mais elevada quando os doentes têm história anterior de problemas de hipercoagulação.
Durante as intervenções cirúrgicas os riscos de formação de coágulos são diminuídos através da administração de fármacos anticoagulantes específicos e da contenção elástica dos membros inferiores. Também aqui, o levante e a mobilização precoces após a intervenção cirúrgica desempenham um papel muito importante.
Infeções
Na sequência de intervenções cirúrgicas abdominais podem ocorrer infeções, algumas pouco importantes e de solução simples, outras que podem colocar a vida do doente em risco, como por exemplo uma peritonite. A peritonite é uma infeção grave da cavidade abdominal que pode ocorrer depois de uma operação para tratamento da obesidade, em consequência do derrame de conteúdo gástrico ou intestinal para a cavidade peritoneal, através da deiscência (abertura) de uma das anastomoses (ligações) entre o estômago e o intestino ou entre dois segmentos de intestino.
É uma prática comum a administração profilática de antibióticos, imediatamente antes da intervenção cirúrgica, para reduzir a incidência de infeções no local da incisão. A incidência destas infeções é estimada em 5% nas intervenções por via aberta e em 1% nas intervenções realizadas por via laparoscópica.
As infeções pós-operatórias, que, de facto, podem complicar qualquer tipo de intervenção cirúrgica, tendem a ser mais frequentes, mais graves, mais difíceis de tratar e mais frequentemente fatais nos doentes com obesidade mórbida.
Hérnias incisionais (hérnias no local de incisão)
Nos meses ou anos posteriores à intervenção cirúrgica pode formar-se uma hérnia no local de incisão, ou seja uma abertura na camada muscular do local de incisão, que permite a exteriorização do conteúdo da cavidade abdominal – por vezes, apenas gordura mas, frequentemente, um segmento de intestino. Nestes casos torna-se evidente uma saliência na parede abdominal, que pode ser desconfortável ou dolorosa. Normalmente, é necessário proceder à sua reparação cirúrgica.
Nos procedimentos realizados por via laparoscópica a incidência de hérnias é bastante inferior à que se regista nos procedimentos por via aberta.
Também as hérnias incisionais podem ocorrer em qualquer intervenção cirúrgica abdominal mas são muito mais frequentes, mais graves e mais difíceis de tratar nos doentes com obesidade mórbida.